domingo, 6 de setembro de 2015

# 31 Humores


Os pequenos não escondem as emoções e, se for preciso, na aprendizagem das mesmas, ficcionam-nas. Quem não está habituado cai sempre na armadilha das lágrimas ou da gargalhada descontrolada. As mood swings em versão infantil podem ser desconcertantes. Vê-los passar de um semblante triste de cortar o coração, à mais descarada felicidade é tão normal como trocar de melhor amigo para sempre. Rir, chorar, gritar ou amuar são expressões ainda não domesticadas e de valor facial próprio. E à falta de análise laboratorial, como distinguir a lágrima genuína das outras? Fingirão a dor que deveras sentem ou sentirão como dor, as dores que deveras não sentem? Qualquer Pessoa ficaria confusa.
A Joana deixava cair lágrimas no que me pareceu uma tristeza profunda. Perguntei-lhe o que se passava. Abanava a cabeça desalentada. Não respondia e continuava a chorar. “Algum menino te fez mal?” Que não, que não era isso. Continuei a aventar hipóteses até que lá se descoseu e, entre fungadelas, disse-me que era o pai, que já não o via há muito tempo, que tinha ido trabalhar para longe. Comovida, pensei na crise e no desemprego que leva tantos pais para longe e abracei-a. Desconfiada e meio enciumada pela atenção que a Joana estava a ter, a Rita aproximou-se para se inteirar da situação. Expliquei que a colega estava triste porque o seu pai estava longe. “Longe?!” Disse a Rita. “Ó Joana, ainda ontem te veio buscar à escola e fomos juntas para a tua casa!” Perplexa, olhei para a Joana, esta encolhe os ombros, sorri, dá a mão à Rita e lá foram as duas à sua vida. Go figure...

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