Um blogue sobre a arte de doar o corpo à docência. Uma dádiva divertida, cansativa, emocionante mas nunca, nunca monótona.
quinta-feira, 3 de abril de 2014
# 20 Medo
Há ocasiões em que o nome “maigode” me assenta que nem
uma luva. E nem é porque consigo convencer as criaturinhas dos meus poderes
para lhes ler as mentes e para estar em toda a parte ao mesmo tempo. Sinto-me
uma espécie de Deus quando as coisas se complicam. Nessas ocasiões, ter o dobro
da altura e cinco vezes a idade de qualquer um dos presentes é quanto baste
para ser “a salvadora”. E as crises podem ser de muitos tipos: Emergência
médica, uma casa de banho - ou um miúdo - a pedir desinfeção completa, uma
trovoada, medo de fantasmas no Halloween, um pombo ferido caído no pátio, uma
aranha no tampo da mesa, varejeiras ou uma vespa a rodopiar pela sala... Há que
estar à altura da situação e não desiludir. Respiro fundo, afivelo um ar
controlado e resolvo tudo. Ou quase. Um dia, o histerismo descontrolado
espalhou-se a partir das filas do fundo. Sigo decidida para ver o que se
passava. Pelo grau de comoção podia ser algum sangramento nasal ou uma
lagartixa. Mas não. À medida que me aproximo, oiço a palavra que me fez
arrepiar da cabeça aos pés: BARATA. “Teacher,
é uma barata ENORME. Tá a fugir... Vai esconder-se” gritam. Estaco. Tento
reunir todo o meu autodomínio, mas não consigo avançar. Sem adivinhar o meu
horror, um dos miúdos salva-me. “Teacher,
venha cá ver, já a esmaguei... quer que a leve aí para ver?” “Não!”,
grito em pânico, “não, deixa estar... Foste muito valente. Agora vai buscar a pá
para a tirares daqui para fora.” Ri-se, "Não é preciso pá!". Claro
que não, se se tem mãos... e coragem, qualquer um consegue ser Lord of the
cockroaches.
Subscrever:
Mensagens (Atom)