Ser uma professora que também é mãe é viver em repressão e dilemas
constantes. Na sala de aula, engolimos o ralhete aos miúdos que não trouxeram
as tampinhas para aquele trabalho de Natal tão original. E, como mães, rogamos
pragas (ainda que silenciosas) ao professor que deve achar que temos o tempo
dele para andar à procura de tampinhas.
Conhecedoras das manhas infantis, minimizamos as queixas das crias sobre as
respetivas professoras. E se amaldiçoamos os trabalhos de casa que infernizam
os serões curtos, defendemos a sua importância para o sucesso escolar.
Nas reuniões de pais, vítimas da empatia profissional, acabamos voluntárias
à força para todas e quaisquer “atividades de estreitamento de laços
escola-família”. O que, no nosso caso, é sair do trabalho e continuar no
trabalho. A mãe que há em nós esconjura essa moda de misturar escola e
família. Concordamos mentalmente com aqueles pais que, quando instados a participar
na vida da escola, dizem à boca pequena: “ora, ora, também não peço aos
professores para irem fazer o meu trabalho!” ou outros, mais enfáticos, que
rosnam um "estreitava era os laços nos pescoços de algumas mentes
iluminadas..." Pensamentos assassinos à parte, percebe-se a relutância de
alguns pais sobrecarregados.
Como professores, alertamos os papás para a importância de toda uma série
de boas práticas. Culpadas, remoemos as que nós próprias não cumprimos no
nosso papel de mães. Damos sermões aos miúdos sobre a importância da
alimentação saudável e à noite, envergonhadas, enfiamos no microondas uma piza
congelada, que o tempo não deu para mais.
A bem da sanidade mental neste jogo duplo, o melhor mesmo é aceitar a
sabedoria popular quando apregoa “faz o que digo, não faças o que eu faço”.
Tenham dó.