sábado, 30 de janeiro de 2016

# 34 Anatomias


As idas à casa de banho só porque “me apetece ir dar uma voltinha lá fora” são um clássico. E quando um se lembra, lembram-se logo mais quatro ou cinco. E lá começa o corrupio. Para dissuadir as aflições menos urgentes a regra é que têm de pedir em inglês, e como deve de ser. Ora como geralmente são os menos empenhados que se lembram destes xixi-breaks constantes, a imposição até tira a vontade a uns quantos. Quando a precisão é mesmo muita, contorcidos, de pernas entortadas e joelhos juntos, aos saltinhos e agarrados ao entrepernas, balbuciam qualquer coisa atabalhoada que de inglês tem pouco, mas cujo caráter universal faria inveja a qualquer esperantista. E antes que se abra algum dique apresso-me a autorizar a ida: “Yes, you may go”. “Quê, ticher?” Traduzo “Pronto, vai lá à casa de banho.” Se não estão a aprimorar o inglês pelo menos o valor da linguagem corporal é dado adquirido. Ainda que o corpo, esse desconhecido, possua subtilezas e mistérios que ainda não dominam. No terceiro ano, dita o programa que aprendam os principais órgãos e suas funções. Fiada nisso, pergunto a uma reincidente das idas à casa de banho a toda a hora se tinha algum problema de bexiga. A plateia rebenta às gargalhadas e aos guinchinhos deliciados como se tivesse dito uma piada daquelas mesmo muito engraçadas. Acalmado o chinfrim, volto a perguntar se a Lara tinha algum problema de bexiga. “Ó Ticher! As meninas não têm bexiga, têm vagina!”. - “Ah, sim?!” -“Sim, aprendemos na aula. Os meninos é que têm bexigas. Quer ver?” E sem me deixar argumentar corre para o quadro e desenha algo de familiar... ainda pensei se estaria a ser gozada, mas perante o ar doutoral da explicação percebi que era mesmo a sério. "Tá ver isto aqui? São as bexigas. E as meninas não têm estas bolinhas, pois não?" Rematou com ar triunfal, como quem diz I rest my case.