quinta-feira, 13 de março de 2014

# 19 Doutores

Há dias o frenesim tomou conta da escola. Mal me aproximei do portão, uma horda ululante correu ao meu encontro. “Vem aí a teacher, é a teacher”. Numa disputa para ver quem era o primeiro a pôr-me a par das novidades, atropelavam-se nas frases. Histéricos, repetiam que os doutores andavam a visitar a escola. “Mas quais doutores?” Perguntei. Que eu soubesse, já não se vacinava nas escolas, como antigamente. Isso sim, pensei, justificaria a agitação. Andaria alguma delegação do posto médico a fazer uma ação de sensibilização? Elevando-se acima da vozearia, diz-me a auxiliar: “É a presidente da Câmara e mais uns senhores que estão a fazer uma visita à escola e vão passar pelas salas”. As auxiliares, perdão, as “assistentes operacionais”, andavam também numa roda-viva a deixar tudo no sítio e a enxotar os miúdos das zonas arrumadas. Fiz figas para não ser uma das brindadas com a visita dos “doutores”. Please, não com esta turma: vinte e quatro miúdos turbulentos do primeiro ano! Para prevenir anunciei, em tom grave e solene, que os “doutores” andavam a ver quem se portava mal. Se viessem à nossa sala, teriam de estar em silêncio e comportar-se como deve de ser. Já a pensar que me safara, entra a presidente e a sua comitiva porta adentro. Claro, justo na hora da algazarra de arrumar as coisas... Lanço um: “Silence, please” e por obra e graça da presença dos “doutores” fez-se um silêncio celestial. A cavalgar a sorte, arrisco pedir-lhes que cumprimentassem os senhores em inglês. Sai-se o Hugo prontamente, para a Presidente: “Buenos dias, señorita!”
Aren’t they A D O R A B L E?!

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