terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

#35 Pais


Ah, pois e tal… adoro crianças, adoro ensinar e essas coisas todas. Tudo muito lindo, mas o que nunca se ensina aos aspirantes a professores é a lidar com os pais. E os pais podem ser mais complicados do que os infantes, com a agravante que àqueles não podemos mandar calar se estiverem a ultrapassar as marcas, nem temos autoridade para os corrigir quando dizem enormidades. A bem da verdade, há que sublinhar que a maioria é pacífica, preocupa-se e não causa problemas. O inferno são os outros. Os que minam a autoridade do professor e tomam sempre as dores dos seus príncipes, mesmo antes de saberem o que se passou. Os que folheiam obsessivamente os cadernos em busca daquela gralha que comprova a incompetência do professor. Os que aprenderam a dizer “DREL” e “Agrupamento” e agora ameaçam por tudo e por nada que vão fazer queixa. Os que fazem questão de vigiar os recreios, “pendurados” na vedação a assegurar-se que os rebentos não são molestados. Sim, que ainda esta semana o Manelzinho chegou com um arranhão. Está-se mesmo a ver que nem as auxiliares ou as professoras são capazes de tomar conta dos meninos. Os que dão palpites sobre métodos de ensino, sem nunca terem estudado o assunto mas que acham que sabem, porque afinal não deve de ser assim tão complicado. E, ao fim e ao cabo, de pedagogo e treinador todos temos um pouco. Os que nas reuniões de pais acham que aquele encontro é apenas para falar da sua cria e para quem qualquer pretexto serve para falar de si e do seu educando e de como este é um geniozinho, as mais das vezes, incompreendido pelo sistema. E, depois, há os que vêm ter connosco, elogiam o nosso trabalho e, assim como quem não quer a coisa acabam a mostrar-nos todo o sortido de “Raibãs verdadeiros” ou nos tentam impingir o relógio da moda: “Aproveite, senhora. Para si faço-lhe 10 euros. É um 'suatchi'.”

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