quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

# 15 Insultos

Há aqueles momentos caóticos. Quando de repente uma coreografia se descontrola e há miúdos pelo chão, outros empinados nas mesas e os restantes num moche ao som do “Old MacDonald had a farm”. Ou quando um projeto coletivo com tesoura e cola acaba numa sessão de cabelo cortado, cola nas mãos e roupas arruinadas. Nestas ocasiões suspiro pela disciplina militar. Lanço uns berros aterradores e uns velados vitupérios à turba. Mas se na recruta insultar os magalas é forma de os disciplinar, na escola temos de ser mais subtis. Lá se me escapam uns contidos “Tontos” ou “Criaturas”. Mais ofensivos no tom sibilado com que são pronunciados do que na substância propriamente dita. Ainda assim, há dias, uma menina indignada responde-me prontamente: “Não sou criatura nenhuma, isso são os animais”. Ups! Ciente do deslize e já a ver a participação do encarregado de educação, questiono filosoficamente: “Então não somos todos criaturas?” Perante o arzinho pouco convencido da ofendida, acrescento em tom melífluo: “Criaturas. [pausa dramática] de Deus!”. Ainda pensou um pouco antes de assentir: “Ah, isso somos”. Safei-me. Até porque sabia dos antecedentes religiosos da sua família. Agora quando me saiu um desesperado “Sua monstra...inha” para a criatura que tinha cortado uma madeixa à colega da frente, a surpresa foi ouvir um entusiasmado: “Olha, monstra é o que a minha mãe chama à namorada do meu pai.” It runs in the family!

2 comentários:

  1. “Ah, isso somos”. Safei-me. Até porque sabia dos antecedentes religiosos da sua família. Agora quando me saiu um desesperado “Sua monstra...inha” para a criatura que tinha cortado uma madeixa à colega da frente, a surpresa foi ouvir um entusiasmado: “Olha, monstra é o que a minha mãe chama à namorada do meu pai.” Melhor do que isto, impossível. :))))))

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  2. As criaturinhas não cessam de me surpreender. Obrigada pelo comentário :)

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