domingo, 8 de setembro de 2013

#2 Ensaios


Trinta anos depois das aulas imaginárias, e fruto de uma reviravolta na minha vida, vou entrar pela primeira vez numa sala como “a professora”, ou antes como “a teacher”. Nesse dia, apesar da aparência controlada e profissional, imagino eu, estava aterrorizada. Vinte criaturinhas sentadas em cadeiras mini olhavam-me curiosas e expectantes. Now what?  
Nas semanas anteriores à minha estreia havia devorado quilos de informação sobre pedagogia e dicas sobre a melhor forma de lidar com o primeiro dia. Esperava conseguir assimilar em poucos dias o básico para sobreviver como professora principiante de crianças do primeiro ciclo. No meu otimismo, achei que não devia ser assim tão complexo. No currículo tinha já um curso para formadores com valiosas instruções pedagógicas e, afinal, já era mãe há alguns anos. Não devia de ser assim tão diferente, pois não? Amigos “especialistas” em educação - basicamente qualquer pessoa que já tenha ouvido falar em crianças – desdobraram-se em conselhos e táticas para bem começar o ano letivo. Comecei a perceber o que sente um treinador de futebol e no meio de tantas e tão bem intencionadas recomendações tentei alinhavar a minha estratégia. Planeei a primeira aula cuidadosamente. Até ensaiei algumas frases com efeito e um quê de humor. Imaginei o efeito nos alunos e nas réplicas que lhes daria. Tudo perfeito no papel. Depois veio a realidade. Sobreviver a uma sala cheia de miúdos irrequietos ia requerer muito mais que teorias.

2 comentários:

  1. Quem, no íntimo do seu ser, albergue um professor, só tem de libertá-lo, para começar a exercer. As outras pessoas, a bem delas próprias e dos potenciais alunos, devem, pacientemente, procurar outra profissão.

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  2. Isso é verdade. Não há pedagogia que se aprenda que suplante a vocação. Podemos aperfeiçoarmo-nos mas se não se gosta, se não se tem o bichinho, dificilmente seremos bem sucedidos.

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