quinta-feira, 12 de setembro de 2013

#5 Participar



Com as apresentações percebi de imediato que os pequenos ADORAM falar de si. Eu, eu, eu… basta dar-lhes uma oportunidade e não se calam e como são muitos na sala, dar a volta a todos para dizerem de sua justiça pode ser interminável. Esta geração já nasceu a comunicar, com os colegas, com a professora, sozinhos. Falam, falam, falam… Quando eu andava na primária, por muito que fossemos faladores, não tínhamos esta apetência pelo protagonismo. A maioria das vezes queríamos era que nos deixassem ficar no nosso canto sem nos perguntarem nada. Hoje, quando se pede um voluntário para o que quer que seja, a turma toda lembra o burro do Shrek Pick me, pick me”. Parece que todos querem opinar, participar -  seja lá no que for -, o importante é dizer coisas. Pergunta-se onde passaram as férias e, de repente, uma simples ida à praia transforma-se numa saga islandesa! Demorei um pouco a dominar a técnica de os calar e dar a vez a outro. De novo, as regras do mundo lá fora não se aplicam. Gentileza e boa educação para interromper as intervenções não são lá muito eficazes. Há que ser firme e incisiva: “Pronto, já percebemos. Agora deixa ouvir o colega do lado.” E com rispidez suficiente para que o impenitente falador não levante novamente a mão, ou a voz, para continuar o testemunho. Quando conseguem retomar a palavra, por distração ou indulgência minha, há sempre um coleguinha diligente a denunciar o pecadilho: “Ele já falou, ticher! Já não é a vez dele!” Oiçam-me a mim, oiçam-me a mim. Nem que seja para delatar.


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